Uma cartografia do ódio no Facebook

gatilhos, insultos e imitações

Autores

  • Pedro Rodrigues Costa CECS – Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade

DOI:

https://doi.org/10.4000/cp.11367

Palavras-chave:

imitação, coligação, gatilhos, insultos, Facebook

Resumo

A popularização das redes sociais digitais veio introduzir facilidade e instantaneidade na expressão pública dos atores. Tal proporcionou um aumento de debates na internet. Esta popularização deu maior visibilidade aos discursos de ódio e à intolerância, expondo insultos e modos de violência (Waldron, 2010). Estão em causa responsabilidades, individuais e regulatórias, de âmbito nacional, internacional e empresarial (Silva,Nichel, Martins & Borchardt, 2011). Todavia, neste artigo aborda-se o tema do ódio por uma perspetiva de interação: dinâmica entre notícias publicadas no Facebook e interações conflituosas. O objetivo foi o de perceber alguns gatilhos para a ativação de conversações em que insultos e ódios tomassem a dianteira. Partindo dos conceitos de imitação (Tarde, 1978), coligação (Simmel, 1950) e associação (Latour, 2012), estudamos o ódio em 350 comentários, 913 respostas geradas e 23 959 palavras contidas nas publicações do Jornal de Notícias mais partilhadas, mais comentadas e com mais gostos em 2017, 2018 e 2019. Os resultados revelam forte presença de discursos de ódio e de insultos face a temas, notícias, ideias, opiniões ou dilemas. Em um terço da amostra, notou-se forte presença de discursos de ódio, estando estes mais presentes nas publicações mais comentadas (16,7%). Os índices de ódio mais elevados foram encontrados no tema do “futebol” e no “crime/agressão”. Numa variante mais qualitativa, percebemos que os discursos de ódio se imitam, tanto na lógica dos argumentos como no tipo de insultos usados.

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Biografia do Autor

  • Pedro Rodrigues Costa, CECS – Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade

    Doutorado em Ciências da Comunicação com especialização em Sociologia da Comunicação e Informação, pela Universidade do Minho, com a tese Entre o Ver e o Olhar: Ecos e Ressonâncias Ecrãnicas (2013). É mestre em Sociologia das Organizações e do Trabalho e licenciado em Sociologia. Entre as suas áreas de investigação constam as questões em torno da Cibercultura, Tecnologia e Estudos sobre redes sociais digitais. É investigador do CECS, onde integra o grupo de Estudos Culturais e o Museu Virtual da Lusofonia. Na lista dos trabalhos de investigação mais recentes, constam os seguintes temas: a presença de arquétipos nos youtubers: modos e estratégias de influência; o medo do consumo solitário: comentários nos canais infantojuvenis de YouTube do Brasil e de Portugal; suicídio e redes sociais: aproximações em português no Facebook, no Instagram e no YouTube; dar “vistas” ao ecrã em rede: problemáticas, desafios e consequências da era digital.

    CECS – Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade
    ICS – CECS, Campus de Gualtar
    4710-057 Braga

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Publicado

2021-08-06

Como Citar

Uma cartografia do ódio no Facebook: gatilhos, insultos e imitações. (2021). Comunicação Pública, 15(29). https://doi.org/10.4000/cp.11367