Anorexia nervosa na infância e na adolescência: percurso desde a identificação de sintomas até ao internamento
DOI:
https://doi.org/10.25758/set.723Palavras-chave:
Anorexia, Comorbilidades, Intervenção precoce, Multidisciplinaridade, Infância, AdolescênciaResumo
Introdução – É amplamente reconhecida a importância da intervenção precoce na anorexia nervosa. Os dados disponíveis na literatura evidenciam que uma duração prolongada de doença não tratada está associada a um pior prognóstico nas perturbações da alimentação e da ingestão e que a gravidade da doença à data do diagnóstico, é preditiva do seu outcome. Objetivos – Geral: estudar o tempo de doença não tratada, numa amostra de crianças/adolescentes que estiveram internados com o diagnóstico de anorexia nervosa. Específicos: descrever o percurso percorrido desde a identificação dos primeiros sintomas até ao internamento, nomeadamente no que respeita ao seguimento em consultas das diversas especialidades, à realização de exames complementares de diagnóstico, à presença de comorbilidades e às terapêuticas estabelecidas previamente ao internamento. Método – Após obtenção do consentimento informado para participação no estudo procedeu-se à consulta dos processos clínicos de uma amostra de crianças/adolescentes internados num serviço de pedopsiquiatria no período compreendido entre janeiro de 2018 e dezembro de 2019 (n=37). Para recolha dos dados foi utilizada uma grelha construída tendo em consideração os objetivos definidos. Foi realizada uma análise estatística univariada, procurando descrever as ações empreendidas no tempo de doença não tratada, os seguimentos e plano terapêutico prévios ao internamento, o tempo decorrido desde a identificação de sintomas até ao internamento e a sua duração. Por último, procurou-se compreender de que forma tinham sido articulados os seguimentos nas diferentes consultas. Resultados e Discussão – Os resultados mostraram que dos 37 casos que constituíram a amostra, em cinco não ocorrera qualquer contacto com um profissional de saúde até à data de internamento; apenas 16 casos estavam referenciados à consulta de dietética/nutrição e só 15 casos tinham um plano alimentar estabelecido previamente ao internamento. Apenas dois casos eram seguidos em equipa multidisciplinar constituída por pediatra, pedopsiquiatra, psicólogo e dietista/nutricionista. Conclusão – Na amostra apenas uma minoria dos casos estava a ser seguida por uma equipa multidisciplinar. Estes dados reforçam a necessidade de uma melhor articulação entre os serviços de saúde mental e as restantes áreas de intervenção nas perturbações da alimentação e da ingestão.
Downloads
Referências
Pritts SD, Susman J. Diagnosis of eating disorders in primary care. Am Fam Physician. 2003;67(2):297-304.
Keski-Rahkonen A, Mustelin L. Epidemiology of eating disorders in Europe: prevalence, incidence, comorbidity, course, consequences, and risk factors. Curr Opin Psychiatry. 2016;29(6):340-5.
Hornberger LL, Lane MA, Committee on Adolescence. Identification and management of eating disorders in children and adolescents. Pediatrics. 2021;147(1):e2020040279.
Rowe E. Early detection of eating disorders in general practice. Aust Fam Physician. 2017;46(11):833-8.
Meierer K, Hudon A, Sznajder M, Leduc MF, Taddeo D, Jamoulle O, et al. Anorexia nervosa in adolescents: evolution of weight history and impact of excess premorbid weight. Eur J Pediatr. 2019;178(2):213-9.
Mitchell JE, Peterson CB. Anorexia nervosa. N Engl J Med. 2020;382(14):1343-51.
Cooper R. Could your patient have an eating disorder? Nurs Womens Health. 2013;17(4):317-24.
Merikangas KR, He JP, Burstein M, Swendsen J, Avenevoli S, Case B, et al. Service utilization for lifetime mental disorders in U.S. adolescents: results of the National Comorbidity Survey-Adolescent Supplement (NCS-A). J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2011;50(1):32-45.
Mairs R, Nicholls D. Assessment and treatment of eating disorders in children and adolescents. Arch Dis Child. 2016;101(12):1168-75.
Fatt SJ, Mond J, Bussey K, Griffiths S, Murray SB, Lonergan A, et al. Help-seeking for body image problems among adolescents with eating disorders: findings from the EveryBODY study. Eat Weight Disord. 2020;25(5):1267-75.
Wilson GT, Shafran R. Eating disorders guidelines from NICE. Lancet. 2005;365(9453):79-81.
Woodside BD, Staab R. Management of psychiatric comorbidity in anorexia nervosa and bulimia nervosa. CNS Drugs. 2006;20(8):655-63.
Society for Adolescent Health and Medicine, Golden NH, Katzman DK, Sawyer SM, Ornstein RM, Rome ES, et al. Position paper of the Society for Adolescent Health and Medicine: medical management of restrictive eating disorders in adolescents and young adults. J Adolesc Health. 2015;56(1):121-5.
Marzola E, Nasser JA, Hashim SA, Shih PA, Kaye WH. Nutritional rehabilitation in anorexia nervosa: review of the literature and implications for treatment. BMC Psychiatry. 2013;13:290.
Blanchet C, Guillaume S, Bat-Pitault F, Carles ME, Clarke J, Dodin V, et al. Medication in AN: a multidisciplinary overview of meta-analyses and systematic reviews. J Clin Med. 2019;8(2):278.
Austin A, Flynn M, Richards K, Hodsoll J, Duarte TA, Robinson P, et al. Duration of untreated eating disorder and relationship to outcomes: a systematic review of the literature. Eur Eat Disord Rev. 2021;29(3):329-45.
Bryant-Waugh RJ, Lask BD, Shafran RL, Fosson AR. Do doctors recognise eating disorders in children? Arch Dis Child. 1992;67(1):103-5.
Reiter CS, Graves L. Nutrition therapy for eating disorders. Nutr Clin Pract. 2010;25(2):122-36.
Downloads
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2022 Saúde & Tecnologia
Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0.
A revista Saúde & Tecnologia oferece acesso livre imediato ao seu conteúdo, seguindo o princípio de que disponibilizar gratuitamente o conhecimento científico ao público proporciona maior democratização mundial do conhecimento.
A revista Saúde & Tecnologia não cobra, aos autores, taxas referentes à submissão nem ao processamento de artigos (APC).
Todos os conteúdos estão licenciados de acordo com uma licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Os autores têm direito a: reproduzir o seu trabalho em suporte físico ou digital para uso pessoal, profissional ou para ensino, mas não para uso comercial (incluindo venda do direito a aceder ao artigo); depositar no seu sítio da internet, da sua instituição ou num repositório uma cópia exata em formato eletrónico do artigo publicado pela Saúde & Tecnologia, desde que seja feita referência à sua publicação na Saúde & Tecnologia e o seu conteúdo (incluindo símbolos que identifiquem a revista) não seja alterado; publicar em livro de que sejam autores ou editores o conteúdo total ou parcial do manuscrito, desde que seja feita referência à sua publicação na Saúde & Tecnologia.