Mulheres em morte-cor: os objetos que fazem e desfazem corpos e cancros metastáticos

Autores

  • Susana de Noronha Antropóloga. Doutorada em Sociologia da Cultura. Bolseira de Investigação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Investigadora de Pós-Doutoramento. Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Coimbra, Portugal.

DOI:

https://doi.org/10.25758/set.874

Palavras-chave:

Objetos, Cancro, Mulheres, Morte, Doença modular, Objeto nosoencastrável, Terceira metade das coisas e do conhecimento

Resumo

Este texto sintetiza o último capítulo da investigação de doutoramento – Objetos feitos de cancro: a cultura material como pedaço de doença em histórias de mulheres contadas pela arte. Através de uma reflexão em torno dos objetos e materialidades que ganham forma e relevo em projetos artísticos referentes à experiência feminina do cancro, esta tese propõe conceitos alternativos de cultura material e de doença oncológica. Rejeita-se uma separação ou diferenciação entre dimensões materiais e intangíveis na doença, entendendo-se os objetos de cultura material como pedaços de cancro, ou seja, enquanto partes constitutivas das ideias, sensações, emoções e gestos que fazem a experiência do corpo doente. Objetos hospitalares, domésticos e pessoais, de uso coletivo ou individual, onde se incluem materialidades descartáveis, vestuário, mobiliário, equipamento e máquinas, compõem uma lista de realidades que se encastram nas experiências do corpo em diagnóstico, internamento, tratamento, reconstrução, remissão, recorrência, metastização e morte. Dando nome a esta continuidade indivisa, propus os conceitos “objeto nosoencastrável” e “doença modular”, pretendendo, na forma como defino as coisas, os mesmos encaixes que existem na realidade vivida. Para compreender a ação, os usos e os sentidos dos objetos que fazem e são pedaços de cancro(s), o campo de trabalho desta investigação abrangeu as imagens e os textos explicativos de cento e cinquenta projetos artísticos produzidos por ou com mulheres que viveram a experiência desta doença. Expostos na Internet, os exercícios criativos, amadores ou profissionais, de fotografia comercial e artística, pintura, desenho, colagem, modelagem, escultura, costura e tricô serviram de terreno narrativo e visual, permitindo-me encontrar a versão émica dos encaixes entre cultura material e doença. Tocar a continuidade entre objetos e cancros, juntando os saberes do corpo, da arte e da antropologia, assentou numa abordagem teórica e metodológica onde ensaiei o potencial heurístico daquilo a que chamo a “terceira metade das coisas e do conhecimento”.

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Referências

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Publicado

30-11-2013

Como Citar

Mulheres em morte-cor: os objetos que fazem e desfazem corpos e cancros metastáticos. (2013). Saúde & Tecnologia, Suplemento, e33-e37. https://doi.org/10.25758/set.874